sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Frederich Nietzsche - O que é aristocrático?

Toda nova elevação do tipo "homem" foi até aqui obra de
uma sociedade aristocrática — e sempre será assim, isto é, será
sempre inegavelmente devida a uma sociedade que tem fé na
necessidade de uma grande escala hierárquica e de uma
profunda diferenciação de valor de homem a homem e que para
chegar à sua finalidade não saberia fazer menos que escravizar
sob uma forma ou outra. Sem o "pathos" da distância que nasce
de decisiva diferença de classe, do constante olhar ao redor de
si e sob si das classes dominantes sobre pessoas e instrumentos,
e de seu constante exercício no obedecer e no comandar, em
manter os outros opressos e distantes, não seria nem mesmo
possível o outro misterioso "pathos", o desejo de sempre novas
expansões das distâncias entre a própria alma, o
desenvolvimento de estados sempre mais elevados, mais
variados, distantes. maiores. tendentes a alturas ignotas, logo à
elevação do tipo "homem", o incessante triunfo do homem
sobre si mesmo para adotar em sentido supermoral uma
fórmula moral. Certo: não é necessário tecer ilusões
humanitárias acerca da origem de uma sociedade aristocrática
(portante da base da elevação do tipo "homem"); a verdade é
dura. Digamos, sem meias-palavras, como começou na terra,
até agora, toda civilização mais elevada.
Homens de uma natureza ainda primitiva, bárbaros no mais
terrível sentido da palavra, homens de rapina, ainda de posse de
indômita força de vontade e do deseja de dominar se
precipitaram sobre raças mais fracas, mais pacíficas que. se
ocupavam talvez do comércio ou do pastoreio, ou ainda uma
outra civilização mais podre, que lançavam os últimos
palpitares de vida em raios fúlgidos do espírito e da
corrupção... A casta aristocrática sempre foi nos primórdios a
mais bárbara; a sua preponderância é procurar não a força
física, mas a da alma — eram os homens mais completos
(aquilo que quer significar também "as bestas mais
completas").

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