domingo, 8 de agosto de 2010

Spleen - LXXVII de Charles baudelaire

Quando, pesado e baixo, o céu como tampa
Sobre a alma soluçante, assolada aos açoites,
E que deste horizonte, a cercar toda a campa
Despeja-nos um dia mais triste que as noites;

Quando se trnsformou a Terra em masmorra úmida,
Por onde essa esperança, assim como um morcego
Vai tangendo paredes ante uma asa túmida
Batendo a testa em tetos podres, sem apego;

Quando a chuva estirou os seus longos filames
Como as grades de ferro em uma ampla cadeia,
E um povoado mudo de aranhas infames
Até os nosso cérebros estende as teias,

Súbito, os sinos saltam com ferocidade
E atiram para o céu um gemido fremente,
Tal aquelas errantes almas sem cidades
Que ficam lamentando-se obstinadamente.

- E féretros semfim, sem tambor ou pavana,
Lentos desfilam dentro mim; e a Esperança.
Vencida, chora, a Angústia, feroz e tirana,
A negra flâmula em meu curvo crânio lança.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Gênio do Mal Charles Baudelaire




Gostavas de tragar o universo inteiro,
Mulher impura e cruel! Teu peito carniceiro,
Para se exercitar no jogo singular,
Por dia um coração precisa devorar.
Os teus olhos, a arder, lembram as gambiarras
Das barracas de feira, e prendem como garras;
Usam com insolência os filtros infernais,
Levando a perdição às almas dos mortais.

Ó monstro surdo e cego, em maldades fecundo!
Engenho salutar, que exaure o sangue do mundo
Tu não sentes pudor? o pejo não te invade?
Nenhum espelho há que te mostre a verdade?
A grandeza do mal, com que tu folgas tanto.
Nunca, jamais, te fez recuar com espanto
Quando a Natura-mãe, com um fim ignorado,
— Ó mulher infernal, rainha do Pecado! —
Vai recorrer a ti para um génio formar?

Ó grandeza de lama! ó ignomínia sem par.

tradução de Dusk do genesis





Veja minhas mãos se movendo
Tocando tudo que é real
E uma vez que afaga o amante
Agora agarra o passado.

O cheiro de uma flor
As cores da manhã,
Amigos que acreditam
Lágrimas cedo esquecidas
Veja como a chuva se move longe, outro dia.

Se a folha tem caído
A árvore quebra falsidade?
E se nós tirarmos um pouco de água
O bem foge seco?

O sinal de uma mãe
O grito dos amantes
Como dois tigres furiosos
Eles se dilaceram um para o outro
Veja como para eles os medos do tempo de vida desaparecem.

Uma vez Jesus sofreu,
Paraíso não poderia vê-lo
E agora meu navio está afundando,
O capitão dirige sozinho.

Um penhor em um quadro de xadrez
Um movimento falso por Deus irá agora me destruir
Mas espere, no horizonte
Um novo amanhecer parece se levantar
Nunca para recordar esse andante, nascido para morrer.

domingo, 1 de agosto de 2010

Amor - Alváres de Azevedo

Amor

Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu'alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!
Quero em teus lábio beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d'esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
Vem, anjo, minha donzela,
Minha'alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!