sábado, 12 de fevereiro de 2011

Além do bem e do mal Cap.O Espiríto Livres 26ºaforisma - Frederich Nietzsche

O homem pertencente à elite procura instintivamente sua
torre de marfim, um baluarte que o libere da massa. do vulgo,
da multidão, um lugar para esquecer “o homem”, cuja "regra",
entretanto, constitui a exceção, a menos que seja um caso
particular em que sob um instinto mais forte ainda se oponha a
esta regra, sendo ele mesmo o cognoscente, no grande e
excepcional sentido da palavra. Quem quer que no trato com os
homens, não tenha passado por todos os matizes da angústia, o
rubor e a palidez da compaixão, a necessidade imperiosa do
isolamento, esse não é verdadeiramente um homem de gosto
superior. Porém se permanece altivo e taciturno em seu refúgio,
então não está destinado ao conhecimento, não é predestinado a
ele. Se o estivesse chegaria a dizer-se um dia: "Ao diabo com
meu bom gosto". A regra é mais interessante que à exceção,
mais interessante que eu, eu que sou a exceção. E desceria de
sua torre com a sublime decisão de "misturar-se" com a
multidão. O estudo do homem comum, estudo prolongado e
sério, que requer muito tato, repugnância dominada,
familiaridade, más companhias — e toda companhia é má,
exceto a de nossos iguais — é um capitulo necessário na vida
de todo filósofo, o mais desagradável talvez e, quem sabe. O
mais pródigo em decepções. Porém se tem sorte, como costuma
acontecer a todo favorito do conhecimento, receberá auxílios
que tornarão mais tolerável sua tarefa; refiro-me aos cínicos,
aos que confessam ingenuamente a animalidade, a vulgaridade,
"a regra" que trazem em si, e que, entretanto, conservam
bastante espírito e penetração para sentirem-se obrigados a
falar ante testemunhos de si mesmos e de seus semelhantes; por
vezes chegam a se revolver em seus livros como em seu
próprio monturo. O cinismo é a única força sob a qual as almas
vulgares roçam o que se chama sinceridade e na presença de
todos os matizes de si mesmo, o homem superior deverá aguçar
o ouvido e considerar-se feliz todas as vezes que perceber as
palhaçadas despudoradas ou os desvarios do sátiro científico.
Em certos casos, o encanto acompanha o asco, quando, por um
capricho da natureza, o gênio foi entregue a um mono
imprudente. como o abade Galiani, o homem mais profundo,
mais penetrante e possivelmente também o mais tenebroso de
seu século; era muito mais profundo que Voltaire e,
conseqüentemente, sobressaia mais que ele ao calar-se.
Freqüentemente acontece, que a cabeça de um sábio seja
acompanhada pelo corpo de um mono, que uma inteligência
sutil e excepcionalmente dotada acompanhe uma alma vulgar;
este caso não é raro entre os médicos e os fisiólogos da moral
especialmente. Sempre que se fale mal do homem sem pôr
malícia nisto, o amante do conhecimento deve prestar ouvidos
e ficar atento sempre que ouvir falar sem indignação. Porém se
a irascibilidade é a mão da mentira, então ninguém mente mais
que o homem indignado.

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