A fé, tal qual a requeria e não raramente a obtinha o
Cristianismo primitivo, em meio ao mundo cético e
meridionalmente liberal, que tinha atrás de si uma luta várias
vezes secular entre escolas filosóficas e trazia em si o fruto,
educado na tolerância, desejada pelo imperium romanum — não
era a fé ingênua e rude de escravos, pelo qual um Lutero ou um
Cromwell ou qualquer cérebro bárbaro do Norte sentiam
atacado o seu Deus, o seu Cristianismo; essa se aproxima mais
àquela fé de Pascal que se assemelha de modo horrível a um
lento suicídio da razão — da razão amolecida e decrépita, que
não se deixa extinguir de um só golpe. A fé cristã é, desde seus
primórdios, sacrifício, sacrifício de toda liberdade, de toda
independência do espírito; ao mesmo tempo, escravização e
escárnio de si mesmo, mutilação de si. Deseja-se a crueldade
religiosa para impor essa fé a uma consciência enfraquecida,
complicada e viciada, fé que parte do pressuposto que uma
sujeição do espírito provoca uma dor indescritível, que todo o
passado e todos os hábitos do espírito se rebelam contra o
"absurdissimum" que representa para ele uma tal fé.
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